segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Um Gato em Paris

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Gato em Paris, Um (Une Vie de Chat, 2010)

Estreia oficial: 15 de dezembro de 2010
Estreia no Brasil: 21 de outubro de 2011
IMDb



"Um Gato em Paris" é uma animação mais voltada para o público adulto. Claro que há um apelo infantil (afinal trata-se de um desenho - o que, naturalmente, 'chama' os espectadores mais novos) que se dá por algumas gags visuais (como o hilário cachorrinho que não pára de latir) e, principalmente, por causa do personagem central da narrativa: o gato Dino.

Dino tem uma vida dupla. Durante o dia, é o inofensivo e carinhoso bichinho de estimação da menina Zoé, que vê nele seu principal companheiro já que todos os dias é deixada somente com a babá quando sua mãe, Jeanne - delegada de polícia, vai trabalhar. Zoé sofreu um trauma quando seu pai (que também era policial) foi assassinado, e desde então não diz uma palavra; e sua mãe, apesar de bastante carinhosa, não cansa de perseguir o mafioso Victor Costa, responsável pela morte de seu marido. Porém, durante a noite, o gato Dino transforma-se no parceiro de crime do ladrão Nico, que escala prédios e casas, esgueira-se pelas fachadas, entra por janelas e chaminés para roubar dos mais abastados. E, quando os dois donos de Dino por acaso se encontram, perseguidos pelo perigoso Victor Costa é que toda a ação realmente começa.

Com um roteiro extremamente enxuto, Alain Gagnol (que co-dirige o longa com Jean-Loup Felicioli) consegue contar sua história sem enrolações, indo direto ao ponto. Essa brevidade, no entanto, acaba dando pouco tempo para que seus personagens consigam se desenvolver melhor. O que é realmente uma pena, pois se o que já ficamos conhecendo deles nos encanta, imaginem se realmente fossem melhor desenvolvidos?

Porém, se tanto cuidado não é dado aos personagens, o mesmo não se pode dizer do visual do filme, e engana-se quem pensa que a animação tradicional 2D traz menos detalhes que uma animação totalmente digital oou em 3D, por exemplo. Com cenários estilizados e bastante coloridos, não são poucas vezes que paredes, tetos e chão confundem-se devido à perspectiva - e não devido a uma 'falha' ou 'incompetência', mas para criar o tom certo para a narrativa, dando um quê de confusão e até apressão.

Já os personagens são desenhados com rostos longos e angulosos, cujos perfis muito lembram os rostos pintados pelo italiano, Modigliani. E se Dino e Zoé são retratados de forma mais infantil, por motivos óbvios; chamam a atenção os movimentos de Nico, que age como um verdadeiro gato pela noite parisiense, sendo a personificação perfeita da palavra 'gatuno'.

Mas não apenas os traços da animação são louváveis, as composições de quadro também chamam a atenção, como a cena que se passa totalmente no escuro, e que aproxima o espectador de Nico, colocando-os como os únicos capazes de ver o que está acontecendo. Ou aquela em que mostra Zoé e sua mãe tomando café da manhã, com um ladrilho com um coração solitário atrás de cada uma delas, representando tanto o carinho que as une, como a distância que se formou entre elas.

Contando também com referências a alguns filmes de gângster, como "Os Bons Companheiros" - Victor Costa zomba de um de seus capangas por causa de um quiche - e "Cães de Aluguel" - há uma discussão que envolve apelidos; o longa trás ainda vários elementos deste gênero cinematográfico, que dão uma certa atmosfera noir para a narrativa; além de uma eficiente cena de ação final, que se passa nos telhados da Catedral de Notre-Dame.

Enfim, "Um Gato em Paris" é um bem-vindo resgate da antiga técnica de animação em 2D, provando que bons filmes não são fruto apenas dos mais requintados e elaborados recursos tecnológicos. Com um bom roteiro se vai longe…

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


Um comentário:

Lipinski disse...

Bom filme. Quem dormiu perdeu!