quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Amor na Tarde

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Amor na Tarde (Love in the Afternoon, 1957)

Estreia oficial: 29 de maio de 1957

"Amor na Tarde" foi o primeiro filme que Billy Wilder escreveu com I. A. L. Diamond, seu companheiro no roteiro de 12 filmes, numa parceria que rendeu 12 longas-metragem, até o fim de suas carreiras.

A trama fala a respeito de Ariane (Audrey Hepburn), a filha de um detetive particular, Claude Chavasse (Maurice Chevalier), e que acaba se apaixonando por um dos 'casos' de seu pai. Contratado para investigar uma suspeita de adultério, Chavasse, considerado o melhor detetive da França, descobre que a tal esposa encontra-se, todas as tardes na suíte 14 do Hotel Ritz, com um estadunidense, verdadeiro 'casanova', que coleciona casos amorosos ao redor do mundo. Frank Flannagan (Gary Cooper), o tal sujeito, possui uma rotina nas suas conquistas: leva as mulheres para o hotel, pede um farto jantar e chama uma trupe de músicos, The Gypsies, que tocam sempre as mesmas músicas, terminando a rotina com "Fascinação"; quando então, deixam o casal sozinho. Ciente disso, o marido traído vai ao Ritz disposto a matar Flannagan. Como Ariane havia escutado toda a conversa de seu pai com o cliente dele, vai até lá e impede o crime passional. Acontece que a moça inocente, mas cheia de imaginação, acaba se apaixonando pelo sedutor 'Don Juan'. Porém, Ariane não revela quem é para Flannagan, o que faz com que ele se sinta ainda mais atraído por ela, apesar de não se envolver amorosamente com mulher alguma. E mais: a moça acaba inventando uma série de casos, baseados em suas leituras dos relatórios de seu pai, e fazendo o experiente amante pensar que ela leve uma vida similar a dele, repleta de experiências amorosas.

Situando a trama na capital francesa, Wilder e Diamond, de forma discreta e narrando os hábitos amorosos dos parisienses, conseguem criticar os costumes puritanos dos estadunidenses. Já no início do longa, Chavasse diz em uma narração em off: "Esta é a cidade - Paris, França - que é igual a qualquer outra grande cidade - Londres, Nova York, Tóquio… Exceto por duas pequenas coisas: em Paris as pessoas comem melhor; e em Paris as pessoas fazem amor… Bem, talvez não melhor, mas certamente, mais vezes". Não que haja cenas de sexo ou mais ousadas (pelo menos atualmente) no filme, afinal era 1957 e o Código Hays ainda estava em vigor em Hollywood. Mas o cineasta cria passagens de total intimidade entre Frank e Ariane, além de várias insinuações sobre o ato sexual em si, como a moça arrumando os cabelos depois de acabado todo o ritual de Flannagan e ainda passar horas na suíte do Hotel Ritz; ou num outro encontro, quando deixa um casaco cair a seus pés, numa menção a estar se despindo.

Mas o que encanta na história é como Wilder consegue fazer com que nos interessemos por aqueles personagens. E claro que a composição dos atores é parte fundamental nisso. Audrey Hepburn (no auge de sua beleza), cria uma moça inexperiente, mas cheia de criatividade e carisma. A forma como ela inventa suas história para Frank é divertidíssima, e quando a vemos falar, é como se ela realmente estivesse criando tudo aquilo na hora, tamanha é a sua espontaneidade. Já Gary Cooper interpreta uma versão de si mesmo (afinal o ator era conhecido por seus diversos - diversos mesmo - casos amorosos com colegas de profissão, mesmo sendo casado - numa união que durou até o fim da sua vida), e aparenta muito à vontade com seu irresistível sedutor. Completando o competente elenco, está Maurice Chevalier, na perfeita personificação do ditado "casa de ferreiro, espeto de pau", já que, tão astuto e observador em seus casos, não é capaz de notar por quem sua filha está se apaixonando (mesmo que essa não pare de cantarolar "Fascinação").

Contando ainda com ótimos diálogos - o que é praxe nos filmes do diretor - "Amor na Tarde" não é só romance, tem também uma boa cota de humor, com gags divertidíssimas - a maioria incluindo o grupo musical The Gypsies.

Enfim, seguindo os passos de seu mestre, Ernst Lubitsch, Billy Wilder consegue criar uma comédia romântica despretensiosa, com ótimos e cínicos diálogos, personagens carismáticos e principalmente, que revela-se ser muito mais crítica aos costumes e hipocrisias (dos Estados Unidos) do que aparenta numa olhada superficial.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


 

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