terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Os Descendentes

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
 
Descendentes, Os (The Descendants, 2011)

Estreia oficial: 9 de dezembro de 2011
Estreia no Brasil: 27 de janeiro de 2011

"Os Descendentes" é o sexto longa de Alexander Payne. Dos quatro filmes aos quais assisti (além do seu segmento em "Paris, Te Amo"), posso dizer que todos têm em comum protagonistas de alguma forma inseguros e aflitos, personagens construídos com tamanha naturalidade que não nos espantaríamos se os encontrássemos andando pelas ruas, como um cidadão qualquer. Pois são exatamente isso: pessoas normais, repletas de problemas, com qualidade e defeitos como todos nós, e por isso nós, espectadores, identificamo-nos tanto com eles.

Aqui não é diferente, e o roteiro escrito por Payne, Nat Faxon e Jim Rash (baseado no romance homônimo da escritora Kaui Hart Hemmings) apresenta-nos a Matt King (George Clooney), um bem-sucedido advogado que mora no Havaí. Surpreendido por um acidente que deixou sua mulher em coma, Matt terá que encarar a difícil tarefa de cuidar de suas duas filhas - a adolescente Alexandra (Shailene Woodley) e a pequena Scottie (Amara Miller) - e, principalmente, reaproximar-se delas, já que fora um pai ausente, dedicando-se muito mais ao trabalho do que à família. Além de toda essa difícil situação, ainda terá que encarar o fato de ter sido traído pela esposa.

A história é centrada em seus personagens e em seus envolvimentos, e como acontecia nos seus filmes anteriores, Payne consegue transitar entre o drama e a comédia com imensa naturalidade, evitando cair em clichês fáceis, e transformando a capacidade dos personagens em encontrar felicidade, descontração e humor mesmo diante das piores adversidades no seu elo com o público.

Tal proximidade com o espectador vai sendo criada aos poucos, através de atos aparentemente desnecessários, como o pedido de desculpas que Matt faz a filha caçula pedir para uma colega de escola; ou quando Matt e Scottie vão buscar Alex no colégio interno e encontram-na embriagada; ou ainda a visita dele e suas filhas aos sogros, para avisar da condição da esposa. São momentos que vão ajudando a construir a personalidade não só de Matt e suas filhas, mas também dos personagens mais coadjuvantes, como o sogro do protagonista, Scott (Robert Forster), que, em um primeiro momento parece insensível e cego para a verdadeira personalidade da filha, mas que esconde-se atrás desta 'máscara' para conseguir aguentar as adversidades que a vida lhe impôs: não só sua filha está em coma, mas sua esposa está num estágio avançado do Mal de Alzheimer. E também Sid (Nick Krause), amigo de Alex, e que pode até parecer apenas um alívio cômico para a narrativa, com suas tiradas 'sem noção', mas que, em momentos específicos, revela-se um adolescente como qualquer outro, e mais ciente de suas ações do que pode aparentar.

Mas é mesmo nas atuações dos membros da família King que está a força de "Os Descendentes". A pequena Amara Miller encanta pela subversão e maturidade para uma menina de dez anos e, ainda que sua insubordinação possa garantir algumas risadas, serve também para uma discreta análise a respeito de uma geração que não mais enxerga hierarquia dentro do núcleo familiar. Além da excelente Shailene Woodley, que foge do estereótipo fácil da adolescente problema e acaba se mostrando bastante madura para uma garota de 17 anos - apesar de sempre revelar uma curiosa e paradoxal imaturidade, principalmente durante a busca na qual auxilia seu pai. Mas é mesmo George Clooney quem rouba a cena e transforma seu Matt King em mais um dos 'homens comuns' da galeria de filmes de Alexander Payne. Matt apesar de toda segurança profissional (demonstrada através da subtrama envolvendo um terreno de família, e pelo respeito que seus primos nutrem por ele), demonstra exatamente o oposto quando se trata de sua família, porém sempre mantendo uma incrível honestidade, inclusive ao tratar de assuntos sérios com suas filhas, chegando até a dividir responsabilidades demais com Alex, colocando-a em situações difíceis e delicadas para uma adolescente.

Apostando em uma iluminação 'natural', Payne e seu diretor de fotografia, Phedon Papamichael, fazem bom uso das deslumbrantes paisagens havaianas, filmando-as constantemente sob um céu nublado, o que traduz de forma espetacular os sentimentos de seus protagonistas: apesar de morarem em um paraíso natural, suas vidas não estão nem perto de ser o 'arco-íris' que muitos poderiam imaginar, como o próprio protagonista relata no início do filme; e o tom acinzentado de algumas cenas externas evidenciam essa melancolia.

Com uma narração em off que se mostra às vezes interessante e em outras totalmente desnecessária, e uma trilha musical 'óbvia', com sons nitidamente havaianos, "Os Descendentes" foge do melodrama fácil, e emociona tanto nos momentos mais descontraídos quanto naqueles de maior comoção de seus protagonistas, como o choro subaquático de Alex, a revelação que esta faz ao pai, a 'briga' de Matt com sua esposa, ou a sua despedida final.

E o faz justamente porque conseguiu que nos importássemos com aqueles personagens, e o seu maravilhoso plano final (ao 'som' de Morgan Freeman) é uma prova disso: não estamos ali apenas testemunhando a união de um pai com suas filhas, mas também nos sentimos parte daquela família.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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Um filme de atuação. George Clooney numa situação bem delicada: quase viúvo, com duas filhas que não o respeitam, e ainda descobre que era traído. Ele consegue nos mostrar que não é uma pessoa que gosta confrontar as pessoas, não é explosivo e nem age por instinto.

Um dos grandes méritos do filme é tratar de um tema muito delicado que é a morte evidente da esposa e como tratar disso com os filhos, família e amigos.

Outro grande mérito é a grande atuação de Clooney. Ele nos apresenta um personagem meio apático, mas que, com o passar do filme, vamos nos compadecendo da causa dele.

A atuação das meninas também é muito boa (Shailene Woodley e Amara Miller).

Uma coisa que gostei é mostrar o Havaí como cidade, tirando essa de só ter praias e cenários. Cidade, prédios, trânsito... isto foi bem legal.

Recomendo.


por Oscar R. Júnior



Um comentário:

Lipinski disse...

Muito bom filme. No nível de Sideways. Muito boas atuações. É um candidato.