segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O Homem que Mudou o Jogo

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Homem Que Mudou o Jogo, O (Moneyball, 2011)

Estreia oficial: 23 de setembro de 2011
Estreia no Brasil: 3 de fevereiro de 2012
IMDb



"Moneyball" pode muito bem afugentar os espectadores brasileiros por se tratar de um filme sobre baseball, um esporte nada popular por aqui. Mas aí vai um aviso: não se enganem pela premissa, pois o longa vai além. Não é um desse filmes 'padrão' de esportes (claro que há cenas de jogos, e referências às suas regras); mas é, sobretudo, um drama de personagem.

Basado em uma história real, o roteiro escrito por Steven Zaillian e Aaron Sorkin a partir do livro escrito por Michael Lewis, "Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game", conta como o Oakland A's passou de 11 derrotas seguidas ao recorde de 20 vitórias consecutivas dentro da Liga Profissional de Baseball, em 2002. E, mais precisamente, como o diretor do time, Billy Beane (Brad Pitt), auxiliado por seu braço direito, Peter Brand (Jonah Hill), desafiou a política dominante de escalação de jogadores, e apostou em estatísticas para montar um time de então desconhecidos ou renegados, contando com escassos recursos, e, como diz o título nacional, mudou a forma com que se encarava o esporte até então. Basta dizer que o famoso Boston Red Sox (principal rival do igualmente famoso New York Yankees) foi campeão em 2004 (depois de um jejum de impressionantes 86 anos) após adotar o revolucionário pensamento instaurado por Beane.

Repleto de diálogos inteligentes e, muitas vezes, divertidos (basta dizer que Sorkin é o roteirista de "A Rede Social", e Zaillian tem "A Lista de Schindler", "O Gângster", além da versão estadunidense de "Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres" em seu currículo), e personagens tridimensionais, "Moneyball" tem sua força motriz em suas atuações. Brad Pitt é, obviamente, o cerne do longa. Extremamente versátil, sempre considerei-o um ótimo ator, então não posso dizer que seu excelente desempenho nos últimos anos me surpreende. Ancorado em sua muleta de atuação preferida: a comida, Pitt cria um personagem complexo e que ganha a empatia do público, e que consegue equilibrar com maestria os momentos mais tensos dramaticamente com aqueles mais bem humorados (afinal não é de hoje que o ator têm demonstrado seu ótimo timing para o humor). E a inclusão no roteiro do núcleo familiar do seu personagem, principalmente de sua filha Casey (Kerris Dorsey), é eficaz no sentido de tornar o personagem mais real e 'humano'; além de criar os momentos mais tocantes do filme, quando Beane e Casey passam alguns momentos juntos.

Mas não é só Pitt quem se sobressai. Mesmo aparecendo pouco, Philip Seymour Hoffman, como o técnico do Oakland's A, Art Howe, cria uma espécie de antagonista à Beane, mostrando-se um personagem a quem o espectador vai antipatizar não por ele próprio (até porque não há tempo para o conhecermos o suficiente), mas pelo simples fato de não concordar (e teimar em não cooperar) com as ideias de Beane. Em contrapartida, o Peter Brand de Jonah Hill é simpático ao público por si só. Com um jeito contido, Hill cria um tipo diferente do que está acostumado a interpretar. E, se sua química com Pitt gera os melhores momentos (e diálogos) do filme, o ator continua demostrando seu grande talento para a comédia (mesmo num papel como esse, que nada tem de engraçado).

Dirigindo seu segundo longa de ficção (o primeiro foi o excelente "Capote", de 2005), o diretor Bennett Miller conduz com segurança não só os seus atores, mas consegue criar um filme coeso e com um ótimo ritmo, alternando de forma eficiente a narrativa principal, os flashbacks do protagonista e as cenas de jogos de baseball - e a opção em utilizar cenas reais dos jogos em alguns momentos, não só reafirma a origem 'verídica' da história, mas torna o longa mais orgânico. Além do mais, como toda a estratégia de Beane e Brand baseia-se em estatísticas, o diretor acerta em colocar, constantemente, os números na tela, pois, embora possamos não entender o que estamos vendo, torna suas ideias mais palpáveis e concretas, já que vemos de onde se originam.

Enfim, correto do início ao fim, "Moneyball" diverte e prende a atenção do espectador, mesmo daqueles alheios ao esporte em foco. Pode até não ser uma obra-prima, mas traz um roteiro coeso, diálogos inteligentes e espirituosos, e ótimas atuações. E não é isso que sempre queremos ver em um filme?

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


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