terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O Guarda

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Guarda, O (The Guard, 2011)

Estreia oficial: 7 de julho de 2011
Estreia no Brasil: 11 de novembro de 2011
IMDb



Em "A Marca da Maldade" (de Orson Welles, 1958), a personagem de Marlene Dietrich diz que Hank Quinlan (o próprio Welles) é "um ótimo detetive mas um policial desprezível". Tal julgamento muito bem poderia aplicar-se ao protagonista de "O Guarda", o sargento Gerry Boyle, interpretado pelo (sempre) ótimo Brendan Gleeson.

Escrita e dirigida por John Michael McDonagh, a história não poderia ser mais simples. Gerry é um policial nada ortodoxo de uma pacata cidadezinha irlandesa, que não vê problemas em se envolver com prostitutas ou pegar ecstasy de um rapaz que acabou de sofrer um grave acidente de carro. Mas é quando o tráfico internacional de drogas chega à sua cidade, e seu companheiro, o novato oficial McBride (Rory Keenan), é morto, é que o FBI entra em cena, na pessoa do agente Wendell Everett (Don Cheadle). Assim, o politicamento correto estadunidense confronta-se com o nada correto policial irlandês, e os dois terão que trabalhar juntos na captura dos bandidos.

É justamente no humor politicamente nada correto tipicamente britânico (do mesmo estilo daquele visto em "Na Mira do Chefe, de 2008; e "Chumbo Grosso", de 2007) que mora o ponto alto e o diferencial deste longa. Repleto de piadas preconceituosas, cínicas e irônicas, que tiram sarro dos próprios irlandeses, além de britânicos e estadunidenses; com traficantes de drogas que discutem filósofos como Schopenhauer e Nietzsche, o longa não poupa das piadas nem Barack Obama.

Mas, a grande atração é mesmo a atuação de Brendan Gleeson. Seu Gerry Boyle é preguiçoso, mal educado, e sua noção do que é correto parece meio deturpada. Porém, suas táticas de ação sempre o levam a fazer o que é certo. É como diz o personagem de Don Cheadle a certa altura: "não sei se você é extremamente burro, ou extremamente esperto". E, para compor o lado mais humano de Boyle, o roteiro lança mão de seu relacionamento com sua mãe doente (Fionnula Flanagan), mostrando que cinismo e ironia vêm de berço, em momentos que não só tornam o longa mais engraçado, mas também dão-lhe um toque que sensibilidade.

Claro que a trama em si, é uma sucessão de clichês de filmes policiais, mas como disse, os diálogos espirituosos e cínicos ao extremo fazem a diferença e auxiliam, inclusive, no ritmo do longa, tornando-o mais ágil.

Quando a ação chega ao seu ápice, o diretor ainda faz uma homenagem ao antigos filmes western-spaghetti, com espingardas e revólveres sendo substituídos por metralhadoras; mas os enquadramentos e a trilha musical lembram muito o gênero imortalizado pelas imagens de Sergio Leone e músicas de Ennio Morricone.

Enfim, é mais uma vez o humor britânico ensinando como inovar dentro de um tema e gênero já batidos. Talvez Hollywood devesse aprender um pouquinho de como a criatividade, ousadia, inteligência, e excelentes atuações (é claro) podem fazer a diferença.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


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