segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Tudo Pelo Poder

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Tudo Pelo Poder (The Ides of March, 2011)

Estreia oficial: 7 de outubro de 2011
Estreia no Brasil: 23 de dezembro de 2011
IMDb



Dirigindo seu quarto longa-metragem, George Clooney parece ter preferência por temas intrigantes e personagens inteligentes, pois, com exceção do irregular "O Amor Não Tem Regras" (de 2008), seus filmes anteriores ("Boa Noite e Boa Sorte", 2005 e "Confissões de uma Mente Perigosa", 2002) continham estes 'ingredientes'.

Clooney assina também o roteiro, em parceira com Grant Heslov (com quem já havia trabalhado em "Boa Noite e Boa Sorte") e Beau Willimon, baseados em uma peça deste último, cuja história fala sobre as eleições primárias para escolher o candidato à presidência do partido democrata. De maneira inteligente, o roteiro centra-se apenas neste partido, e nos dois candidatos que concorrem à vaga, deixando de lado qualquer outro candidato e, principalmente, o partido republicano, mostrando que o jogo político, com tramoias, ataques pessoais e jogos sujos, faz-se presente em qualquer situação, mesmo se tratando de candidatos do mesmo partido.

O governador Mike Morris (Clooney) é o candidato que está à frente nas pesquisas na corrida pela vaga democrata. Sua campanha é comandada por Paul Zara (Philip Seymour Hoffman), cujo braço direito é o assessor de imprensa Stephen Meyers (Ryan Gosling). Já a campanha do adversário direto do governador é liderada por Tom Duffy (Paul Giamatti).

Quando Stephen Meyers envolve-se com uma de suas estagiárias, Molly (Evan Rachel Wood), descobre um segredo que poderia alterar o curso das eleições, e que acaba desencadeando uma série de reviravoltas na história.

Contando com personagens inteligentes e de raciocínio rápido, o roteiro dá o ritmo do longa por seus diálogos igualmente ligeiros e que, às vezes, querem dizer mais do que realmente aparentam, como se os personagens estivessem travando um jogo de estratégias (bom, estão na realidade).

E o ótimo roteiro ganha ainda mais força quando atuado por um elenco excepcional. Desde George Clooney como Morris, que dá carisma e 'pinta de bom moço' ao sujeito (e é impossível não pensar em Obama quando vemos o governador defender seus pontos de vista, mesmo quando se tratam de temas polêmicos, de forma coerente e bem humorada). Passando pelo inteligente estrategista Tom (Giamatti), que, mesmo mostrando-se inescrupuloso ao manipular a vida das pessoas como se fosse um jogo, faz com que o respeitemos devido à sua inteligência e ampla visão do processo eleitoreiro. E, se Evan Rachel Wood consegue compor uma jovem que mescla sensualidade e vulnerabilidade; é o 'manipulado' Stephen (Gosling) e seu idealismo político que norteiam o longa. Mas o destaque dentre esse maravilhoso elenco fica mesmo a cargo do excepcional Philip Seymour Hofman, que compõe o chefe de campanha Paul como um homem extremamente inteligente que é capaz de conhecer seu parceiro de trabalho, Stephen, melhor do que ele mesmo, gerando, numa das melhores cenas do filme, um discurso que demonstra de forma genial não só sua inteligência e capacidade de raciocínio lógico, como sua lealdade ao seu trabalho e seus princípios morais (mesmo que estes não sejam lá muito respeitosos, mas que mantêm uma certa ética em meio a uma realidade, que o filme mesmo mostra, é corrompida por natureza).

"Tudo Pelo Poder" conta ainda com uma fotografia excepcional de Phedon Papamichael, que acerta na diferente ambientação das cenas, dando o tom necessário que a narrativa impõe, seja ele mais simbólico (o plano com Stephen no contraluz atrás de uma gigantesca bandeira dos Estados Unidos é maravilhoso), ou mais enigmático (o encontro entre Stephen e Morris na cozinha de um restaurante, à meia-luz, repleto de sombras que encombrem parte dos rostos dos personagens é igualmente brilhante).

Mostrando-se um diretor extremamente competente e que dá espaço e tempo para seus atores, Clooney ainda cria uma rima narrativa que faz o início e o final do longa articularem-se de maneira elegante; além, claro, do plano final, que mostra (até de forma incômoda) como o jogo político acaba transformando as pessoas, e isso, infelizmente, não acontece apenas nos Estados Unidos…

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


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