sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Veneza

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Veneza (Wenecja, 2010)

Estreia oficial: 11 de junho de 2010
Estreia no Brasil: ainda sem data prevista
IMDb



"Veneza", do polonês Jan Jakub Kolski, é uma fábula infanto-juvenil densa, que tem como pano de fundo a Polônia invadida pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial.

O roteiro, do próprio Kolski, conta a história de Marek (Marcin Walewski), um menino de 11 anos cujo maior sonho é conhecer, como diz o título, Veneza. Estudando em um colégio interno, e com pais mais interessados nos privilégios que seu alto poder econômico lhes proporciona do que nos próprios filhos (Marek tem um irmão mais velho, Wiktor, interpretado por Filip Piotrowicz), Marek se vê ainda mais longe do seu sonho quando a guerra se intensifica, e sua família abriga-se em sua grande casa no interior do país, que sua tia Weronika (Grazyna Blecka-Kolska) toma conta.

É para esta grande residência que dirigem-se outras duas irmãs de sua mãe, algumas primas e sua avó; além do caseiro, seu filho (ambos judeus) e uma moça que ajuda a cuidar da casa. Entre idas e vindas dos familiares (que constantemente saem para a guerra ou para a cidade), o porão da casa inunda, e Marek cria sua própria versão da tão sonhada cidade italiana. Para poupar as crianças da dura realidade que toma conta do país (sempre há soldados alemães nas redondezas), as tias do garoto também embarcam em sua fantasia.

Kolski (assim como Guillermo del Toro fazia em "O Labirinto do Fauno", de 2006) investe em um mundo fantástico criado por uma criança para fugir da bruta realidade que a guerra lhe impõe. E, assim como no filme de del Toro, a sensibilidade, pureza e inocência das crianças são combinadas com momentos da mais cruel brutalidade que uma guerra pode afligir. Além disso, o diretor ainda encontra espaço para questionar e abordar outros temas relevantes que servem de fundo para a história principal, como o preconceito contra os judeus, problemas familiares, amor materno e a transição da infância para a adolescência.

Com uma imensa sensibilidade, Kolski e o fotógrafo Arthur Reinhart criam planos belíssimos, com movimentos de câmera elegantes e até mesmo inusitados. Ajudados ainda pelas belíssimas locações, criam uma ambientação que reitera ainda mais o tom fabulesco do longa.

Apesar do início um pouco confuso (quando a grande quantidade de personagens entra em cena), o diretor vai dando o tempo necessário para que todos se desenvolvam, ainda que em maior ou menor escala. Porém o grande número de subtramas acaba fazendo com que o ritmo do filme resulte um pouco irregular, e sem tempo para se aprofundar devidamente em cada uma delas.

Porém, a trama central guiada por Marek costura todas as demais. E, ao final, é a história deste pequeno sonhador que fica gravada na memória. Uma história linda e melancólica, que emociona pela sua fantasia idealizadora de felicidade e sua dura realidade de tristezas.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


OBS: Comentário escrito durante a 35ª Mostra Intrnacional de Cinema de São Paulo.

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