sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Vejo Você no Próximo Verão

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Vejo Você no Próximo Verão (Jack Goes Boating, 2010)

Estreia oficial: 24 de setembro de 2010
Estreia no Brasil: 22 de julho de 2011
IMDb



O grande diferencial de "Vejo Você no Próximo Verão" é o seu casal protagonista. Ou melhor, o quão deprimidos ou deprimentes são esses personagens. Além de marcar a estreia do grande ator Philip Seymour Hoffman na direção.

Escrito por Robert Glaudini (inspirado em sua própria peça teatral), a trama acompanha dois casais - um já formado e desgastado, e outro que está tentando se juntar - em sua busca por alguma coisa na vida: um simples afeto, um relacionamento ou a significação para uma vida vazia. Clyde (John Ortiz) é o melhor amigo de Jack (o próprio Philip Seymour Hoffman), e ambos trabalham como motoristas de limusines; ele é casado com Lucy (Daphne Rubin-Vega). E, mesmo com todos os problemas em seu casamento, eles decidem aproximar Jack de Connie (Amy Ryan).

E é a partir dos encontros entre essas quatro pessoas que a trama vai evoluindo e os personagens vão modificando-se (sobretudo Jack, que é quem 'leva' a história).

Porém, o Philip Seymour Hoffman diretor não se sai tão bem quanto o ator. Criando uma narrativa pouco fluida, a história parece que não evolui de forma orgânica, principalmente nos dois terços iniciais. Porém, quando Hoffman, no terço final, concentra a ação dentro do apartamento de Clyde e Lucy em um jantar que acaba numa discussão digna de "Quem Tem Medo de Virginia Wolf?" (impossível não se lembrar desse filme nesta parte), parece 'acertar' a mão. E, talvez por sua origem teatral, quando neste momento, a trama foca-se em um só ambiente e nos conflitos pessoais exteriorizados pelos diálogos, ele ganha em força, tensão e dinâmica. Pena que isso só aconteça ao final.

Mas, como ator, Hoffman compõe um personagem repleto de nuances e sutilezas, que o tornam tridimensional e 'real'. Na maior parte do tempo apático, o ator/diretor não tem medo de mostrar Jack como sendo desprovido de qualquer vaidade (e seu figurino consegue refletir muito bem seu caráter), assim como um sujeito que escuta conselhos de todos, sendo praticamente 'levado' de um lado para outro. Assim, quando Connie entra em sua vida, testemunhamos a transformação gradual do sujeito, que começa a tomar decisões que mudarão (mas nem tanto) quem ele é. E é de forma delicada, singela e tocante que Philip Seymour Hoffman faz Jack sair de sua apatia habitual aprendendo coisas novas para tentar agradar seu interesse amoroso.

Mas não é só a atuação de Hoffman que se sobressai. Como diretor, ele também abre espaço para que todos os outros protagonistas dessa história consigam se destacar. Seja Amy Ryan como uma mulher carente mas a procura da felicidade mesmo nos momentos mais difíceis. Ou Jack Ortiz que esconde a infelicidade e angústia pessoal de Clyde em um semblante sempre alegre e brincalhão. Ou Daphne Rubin-Vega que cria sua Lucy exatamente de forma oposta a do marido: com a maioria das pessoas é comunicativa e alegre, já com Clyde torna-se fechada e mal humorada. Enfim, o filme torna-se melhor devido à força de suas atuações e à composição de seus personagens.

Estreando de forma promissora, Philip Seymour Hoffman pode até não ter realizado um filme memorável em seu debut, mas delicado e encantador o suficiente para que possamos enxergar a felicidade mesmo nas pequenas coisas da vida, como a promessa de um passeio de barco, ou de um jantar feito com amor e dedicação.


por Melissa Lipinski


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