terça-feira, 8 de novembro de 2011

O Palhaço

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Palhaço, O (2011)

Estreia oficial | no Brasil: 28 de outubro de 2011
IMDb



Depois de assistir a este "O Palhaço", constato que Selton Mello não é mais um bom ator…

Neste seu segundo longa como diretor (em ambos divide a coautoria do roteiro com Marcelo Vindicato), Mello cria uma espécie de road movie melancólico e doce ao mesmo tempo, habitado por personagens fascinantes.

Acompanhando as viagens do pequeno circo Esperança, o roteiro apresenta, logo de cara, os integrantes da trupe, encabeçada pelos palhaços Puro Sangue (Paulo José) e Pangaré (Selton Mello) durante um espetáculo que já prenuncia o tom de toda narrativa: apesar de se tratar de um circo, e provocar o riso nos espectadores (tanto os do circo, como os do filme), há um certo ar de tristeza que envolve todo aquele show. E Selton Mello já acerta desde o início em mostrar os poucos artistas se desdobrando em funções também nos bastidores enquanto os números acontecem. E, ao focar as reações destes integrantes, o diretor já estabelece, desde a primeira cena, a proximidade entre eles e o espectador.

Esses planos centrados nos personagens mostram o quanto o diretor/roteirista preza por eles e pelo seu ofício. Mas não só os artistas do circo merecem tal carinho, já que quase todos os personagens que cruzam o caminho destes protagonistas aparecem (por vezes) voltados para a câmera, como que falassem diretamente com o público - e isso acontece com os gêmeos mecânicos interpretados por Tonico Pereira; o funcionário que faz carteiras de identidade feito por Ferrugem; o delegado de Moacyr Franco; entre outros. Aliás, ao resgatar personalidades como Moacyr Franco, Jorge Loredo e Ferrugem, Selton Mello demonstra um imenso respeito e admiração pela cultura e comédia nacional.

Mas o mais tocante do filme de Mello é notar com que delicadeza o diretor trabalha os bastidores do pequeno circo e a dúvida que se abate sobre seu líder, Benjamin (ou Pangaré), belamente retratada no paralelo que se cria com um ventilador.

E o grande mérito do longa é contar com atuações não só competentes, mas marcantes. Não apenas as de atores consagrados, mas de todos do elenco que, em algum momento ou outro, ganham tanta importância quanto o protagonista Benjamin. Mas certamente Selton Mello compõe seu personagem com graça e tristeza em iguais medidas. E claro, há sempre a presença marcante de Paulo José, que apenas em um olhar consegue expressar muita coisa (e a cena do espetáculo final é a prova indelével disto).

Contando ainda com uma belíssima fotografia, e uma direção de arte impecável (capaz de criar ambientes tão expressivos quanto os personagens que neles habitam), Mello e a montadora Marilia Moraes conseguem imprimir um ótimo ritmo ao longa, que tem seu ápice no espetáculo circense final - que embora semelhante em quase tudo ao espetáculo de abertura do filme, tem um tom totalmente diferente ao retratar o estado de espírito tanto de Benjamin quanto o da verdadeira 'dona' da história, a garotinha Guilhermina (Larissa Manoela).

Enfim, como ia dizendo lá no primeiro parágrafo, Selton Mello não é mais apenas um bom ator. Depois de dois longas totalmente distintos entre si, ele também já deixou de ser um diretor promissor e se firmou como um ótimo cineasta.

Com o perdão do trocadilho, esse filme é um espetáculo! Fica a dica!


por Melissa Lipinski


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