quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Frango com Ameixas

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Frango com Ameixas (Poulet aux Prunes, 2011)

Estreia oficial: 26 de outubro de 2011
Estreia no Brasil: ainda sem data prevista
IMDb



Desde os créditos iniciais, este novo filme de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud já anuncia sua origem: a graphic novel homônima, trabalhando sequências de animação e efeitos visuais que criam um ar poético e de fábula à história que se anuncia.

E é a história do violinista Nasser Ali (Mathieu Amalric), o melhor do seu tempo, como o filme mesmo diz. O roteiro não linear mistura passado, presente e até o futuro do protagonista, para contar como Nasser Ali tornou-se músico, apaixonou-se pela bela Irâne (Golshifteh Farahani), viu seu grande amor ser frustrado, viajou ao redor do mundo, casou-se sem amor com Faranguisse (Maria de Medeiros), teve dois filhos dos quais não sabe cuidar, e perdeu o amor pela música e pela vida ao ter seu violino quebrado.

Auxiliados pela deslumbrante fotografia de Christophe Beaucarne, os diretores misturam vários estilos no decorrer da trama, passando por momentos que lembram mesmo quadrinhos, com suas cores vivas e marcantes; uma sequência inspirada no surrealismo fantástico, com um gigantesco par de seios (impossível não lembrar de "Amarcord", de Fellini); outra que remete ao expressionismo, com um cenário opressivo e sombras bem demarcadas, e que mostram uma lembrança da infância do protagonista; e até mesmo ironizando as sitcons estadunidenses, ao ilustrar o futuro do filho do violinista. O melhor de tudo, é que Satrapi e Paronnaud conseguem passar de um estilo a outro sem jamais perder o ritmo da narrativa, e, de forma instigante, tecendo uma interessante unidade visual para seu filme.

Compondo planos belíssimos, como o que acompanha um floco de neve que cai e é engolido por uma menininha; ou aquele em que um casal de namorados beija-se sob uma árvore de pétalas amarelas, com um por do sol lilás ao fundo; os diretores permeiam a rica narrativa com momentos de puro prazer poético e outros do mais escrachado senso de humor (como na cena em que misturam a morte de Sócrates com o som de gases) para, ao final, desvendarem que, na verdade, estavam contando uma triste história de amor.

"Frango com Ameixas" ainda conta com poderosas atuações, como a do expressivo Mathieu Amalric que compõe seu Nasser Ali como sendo capaz de cometer os atos mais vis e descabidos em função de seu amor pela música, sem nunca transformá-lo em alguém por quem o espectador deixe de torcer. E o que dizer de Maria de Medeiros que, de início, parece ser uma mulher amarga e sem coração para, aos poucos, ir demonstrando a complexidade de sua personagem? Ou então Isabela Rossellini que dá uma toque de elegância e frieza à mãe de Nasser Ali? Ou à pequena mas marcante participação do incrível Jamel Debbouze? Enfim, atores que transbordam sentimentos nos menores detalhes de suas interpretações.

E, assim, como a música de Nasser Ali, o filme de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud revela-se belíssimo e trágico. É impossível conter as lágrimas quando essa triste história chega ao fim.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


P.S.: Comentário escrito durante a 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.


Um comentário:

Luana« Balieiro disse...

Parabéns por legendarem o trailer, quando vi pela primeira vez eu vi em francês, mas eu conheço a obra. Continuem a traduzirem.