segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A Casa dos Sonhos

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Casa dos Sonhos, A (Dream House, 2011)

Estreia oficial: 30 de setembro de 2011
Estreia no Brasil: 4 de novembro de 2011
IMDb



Se você assisitiu ao trailer de "A Casa dos Sonhos" poupe-se ao trabalho de ver o filme, já que o trailer entrega toda e qualquer 'surpresa' que o longa poderia ter, e conta absolutamente a história inteira. Assim, o trailer acaba revelando-se bem melhor do que o próprio filme, já que nele não há a grande quantidade de diálogos absurdos, os personagens não se revelam caricaturais e inverossímeis, e as situações não beiram ao ridículo.

Bom, mas falando do filme, o roteiro de David Loucka (cujo próprio sobrenome prenuncia a 'qualidade' do roteiro... Sorry, não resisti!), abusa de situações 'clichês' e que, de tão irreais, chegam à beira do risível. Will Atenton (Daniel Craig) é um editor de livros que se afasta do trabalho para passar mais tempo com a família e para escrever um tão sonhado livro. Quando o filme tem início, ele, sua esposa Libby (Rachel Weisz) e suas duas filhinhas acabaram de se mudar para uma casa em uma pequena cidade. Porém, coisas estranhas começam a acontecer nesta casa, e ele descobre que, cinco anos antes, o homem que ali morava matou sua família (esposa e duas filhas). Contando com a ajuda de uma vizinha (Naomi Watts), Will acaba descobrindo que ele mesmo é o dito assassino, seu verdadeiro nome é Peter Ward, e que sua família não passa de alucinações; apesar de ele afirmar que não foi o responsável pelas mortes (bom, até aqui não cometi nenhum spoiler, pois como disse, o trailer entrega tudo isso!).

Há boatos que Jim Sheridan tentou de tudo para que seu nome fosse tirado do filme, pois não teria gostado do resultado final, e que o estúdio produtor reeditou o filme a seu modo. Mas a verdade é que, desde o início (já no roteiro), a história tem problemas. Problemas na base de sua ideia (a tal 'chocante' revelação), no desenvolvimento de seus personagens, nos seus diálogos embaraçosos, nos seus vilões absurdos, nas situações que dão raiva de tão inverossímeis... a lista é longa! Por que, por exemplo, ninguém se revolta, ou nem sequer diz uma palavra a Will quando ele sai pela cidade fazendo perguntas sobre o assassino? Todos o conhecem e sabem que ele é o principal suspeito. Será mesmo que numa cidadezinha, ninguém iria enfrentá-lo quando ele saísse pelas ruas 'se fazendo de desentendido'? Ele chega a questionar policiais, que, simplesmente, o olham com uma cara feia e de desconfiança deixando tudo 'por isso mesmo'. Eu não acredito! Ou o papel da vizinha (Watts) em toda a história e a subtrama que envolve seu desentendimento com o marido que, além de comprometer o ritmo do longa, revela-se tão patética quanto a motivação dos verdadeiros vilões, que são revelados já no fim do filme. Seria até engraçado, se não fosse vexatório.

O pior de tudo é que, no desenvolver da história, conseguimos ver a 'mão' de Jim Sheridan ali, já que, quando foca-se no desenvolvimento da família de Will e em seus laços e dinâmica familiares, o diretor consegue imprimir uma verdade, uma certa profundidade em seus personagens (que, infelizmente, não é levada a diante), e nós, espectadores, realmente chegamos a nos importar com aquelas pessoas, Will, Libby e suas meninas, as pequeninas e encantadoras Trish e Dee Dee (Taylor e Claire Geare, que são também irmãs na vida real). Porém, essa identificação dura pouco, já que o roteiro 'volta' a se fazer presente a todo momento.

E o bom elenco até tenta - em vão, obviamente - dar mais complexidade a seus personagens. É de dar pena as caras que Daniel Craig faz para tentar diferenciar seus dois 'eus'. Ou o ar sempre assustado de Libby (Weisz) ou sempre em pânico de Ann (Watts). Enfim, quando a matéria prima é ruim, nem um Marlon Brando ou Jack Lemmon consegue salvar por completo o resultado final!

E por mais que, tecnicamente, o filme seja muito competente - em especial a fotografia de Caleb Deschanel, que consegue, elegantemente, diferenciar o mundo real do protagonista e seu universo alucinatório - não é o suficiente para apagar ou mascarar um roteiro tão fraco.

Mas o mais revoltante é ver o nome de Jim Sheridan nessa porc.., digo, filme. Responsável por trabalhos memoráveis, complexos e sensíveis como "Meu Pé Esquerdo" (1989), "Em Nome do Pai" (1993), "O Lutador" (1997), "Terra de Sonhos" (2002) e "Entre Irmãos" (2009); é inconcebível a escolha do cineasta por um trabalho tão medíocre como esse.

Mas enfim, revoltas à parte, como falei lá no primeiro parágrafo, a verdade é que esse "A Casa dos Sonhos" funciona bem melhor como trailer do que filme.


por Melissa Lipinski


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