quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Amizade Colorida

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Amizade Colorida (Friends With Benefits, 2011)

Estreia oficial: 22 de julho de 2011
Estreia no Brasil: 30 de setembro de 2011
IMDb



Comédias românticas (como tenho dito há certo tempo aqui no blog) são sempre variações de um mesmo tema, de uma mesma história e de uma mesma estrutura narrativa. O que faz com que um filme deste gânero nos supreenda e saia da mesmice é a sua capacidade de inovar, reinventar os próprios paradigmas, além do carisma dos protagonistas. E este "Amizade Colorida" tem tudo isso.

Roteirizado por Will Gluck (que também o dirige), Keith Merryman e David A. Newman, o filme conta, basicamente, como Dylan (Justim Timberlake) e Jamie (Mila Kunis), depois de sofrerem desilusões amorosas, conheceram-se, tornaram-se amigos e se apaixonaram. Sim, é basicamente isso. Mas é a forma como é contado que o torna diferente, e a personalidade do casal que faz com que torçamos por eles.

Will Gluck parece estar se especializando em tornar comédias românticas interessantes. Este é seu terceiro longa, e confesso que não assisti a seu filme de estreia, "Pelas Garotas e Pela Glória" (de 2009); mas seu segundo longa, "A Mentira" (2010), protagonizado por Emma Stone (que faz uma rápida participação neste "Amizade Colorida"), foi uma surpresa cativante. Neste terceiro longa, Gluck parece repetir os ingredientes que deram certa em seu longa anterior: diálogos rápidos e inteligentes, boas sacadas contemporâneas, e referências a filmes antigos. Se antes eram as comédias românticas dos anos 80 (principalmente as dirigidas por John Hughes); agora é o próprio gênero que cai nas "graças" do diretor, e é comentado/ parodiado pelo filme.

Mas são mesmo os rápidos, bem humorados, sarcásticos e inteligentes diálogos, repletos de referências da cultura pop (as próprias comédias românticas em geral, como falei, e músicas dos anos 1980) e atualidades (ipads, iphones, flashmobs, e outras tendências atuais) que dão charme ao longa de Will Gluck. Ele até lembra um pouco as antigas comédias screwball (dos anos 1930 e 40), onde a guerra dos sexos e o relacionamento pessoal-profissional estavam sempre interligados, tudo apimentado com rápidos diálogos (algumas vezes de duplo sentido).

Bom, a verdade é que Will Gluck tem se mostrado um ótimo diretor deste gênero, e que investe muito na metalinguagem, ainda que não proponha nenhum inovador arroubo estrutural ou estético. Mas isso é apenas uma das bases dessa boa comédia romântica. A outra, certamente, é o elenco afinado. Mila Kunis e Justim Timberlake não apenas apresentam uma excelente química, como são competentes em demonstrar as aspirações e inseguranças de seus personagens.

Mas a "cereja no bolo" de "Amizade Colorida" são os seus contrapontos, sua linguagem comparativa. Explico. Parte da trama acontece em Nova York; a outra parte, em Los Angeles. Nova York é mostrada como símbolo da correria dessa vida pós-moderna, com sua cultura cosmopolita e passageira dos dias atuais - mas não é mensoprezada pelo diretor e é retratada em belos planos noturnos; e é sim colocada como contraponto de Los Angeles, que, para Dylan, representa seu passado, sua família, sua memória. Jamie é de Nova York; Dylan, de L.A. Jamie não tem família, e uma mãe extremamente fora dos padões tradicionais. Dylan, apesar de sua mãe ter abandonado a família, tem um 'lar', no seu mais tradicional conceito, raízes familiares. E Will Gluck vai trabalhar com essas diferenças, levantar questões que permeiam grande parte dos sujeitos que vivem em grandes cidades pelo mundo afora.

E é justamente para dar ênfase a este contraponto que os atores coadjuvantes ganham espaço e brilham, seja Woody Harrelson com um tom mais cômico; ou Patricia Clarkson e Richard Jenkins que, sim, tem cenas engraçadas (algumas extremamente), mas que estão ali dando o peso dramático que a história precisa, fazendo com que os casal principal ganhe contornos mais densos e realistas.

Enfim, Gluck e seu "Amizade Colorida" provam que um entretenimento despretencioso pode sim divertir e, ao mesmo tempo, nos questionar sobre certos aspectos de nossas próprias vidas.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


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