sábado, 17 de setembro de 2011

O Poderoso Chefão

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Poderoso Chefão, O (The Godfather, 1972)

Estreia oficial: 24 de março de 1972
IMDb



O que resta ainda hoje para se falar de "O Poderoso Chefão"? Ele é, merecidamente, tido como um dos melhores filmes de todos os tempos, e muitos (muitos mesmo) sempre o colocam na condição de 'filme favorito'. Eu não poderia ser tão categórica, afinal, acho impossível escolher "o" meu filme favorito, tenho tantos… E "O Poderoso Chefão" - e aí sim posso ser categórica - certamente é um deles.

A adaptação do livro de Mario Puzo (feita pelo próprio em parceria com Francis Ford Coppola), alavancou a carreira do próprio cineasta, Coppola, e dos atores, na época iniciantes, Al Pacino e James Caan. Além de marcar um retorno triunfal de Marlon Brando (que acabou levando o segundo Oscar da sua carreira, o qual recusou mandando uma falsa índia à cerimônia para recebê-lo).

Puzo juntamente com Coppola conseguem transformar mafiosos em 'mocinhos', e fazer-nos torcer por eles. Isso porque o universo de "O Poderoso Chefão" é fechado, passa-se inteiramente nesse submundo de gângsteres italianos. Os autores fazem, assim, com que reflitamos sobre a Máfia a partir se seus próprios princípios.

Os personagens são tão maléficos quanto são carismáticos e admiráveis. Don Vito Corleone (Marlon Brando) é simpático, e faz tudo em nome da 'famiglia'. Como podemos recriminar um homem que se coloca contra o tráfico de drogas? Que não abusa de mulheres e inocentes? Michael Corlene (Al Pacino) é herói de guerra, lutou pelo seu país, e apenas entrou no mundo criminoso para vingar a honra e o nome de seu pai. Como recriminá-lo? Quem não defenderia o próprio pai?

Essa é a 'mágica' de Coppola e Puzo. Nós 'traímos' nossos próprios princípios morais para apoiarmos e torcermos por esses anti-heróis. O mundo 'real' é (durante o tempo do filme) trocado pelo mundo da Máfia, um autoritário patriarcado onde a justiça está do lado do 'Padrinho', e somos convidados a fazer parte dele. E nos deixamos convencer. Afinal, como diz o próprio Michael, "jamais se atreva a aliar-se com alguém contra a família".

O filme é tão magistralemnte orquestrado por Coppola que não há peças fora do lugar. Tudo é mostrado por alguma razão e no tempo certo. Ao final da sequência inicial, por exemplo, que mostra o casamento da filha de Don Corleone, Connie (Talia Shire), intercalado com reuniões do Padrinho, já ficamos sabendo quem é quem nessa família, e a personalidade de cada um deles. Coppola nos apresenta àquela família, e de imediato, nos sentimos integrados a ela, conhecendo seus principais componentes.

O roteiro é tão intrincado em suas idas e vindas que você não pode dispersar um segundo. Uma informação perdida aqui, será o não entendimento de uma reação acolá; e assim, a história fecha-se magistralmente. Uma história, como falei, patriarcal, que não dá voz às mulheres. Todas as personagens femininas passam pelo filme como meros fantoches, joguetes ou apenas companheiras dos mafiosos. Kay (Diane Keaton) é, certamente, quem tem maior importância. Ela casa-se com Michael porque acredita, como ele lhe diz ao começo do filme: "essa é a minha família, Kay, não sou eu". Mas, ao final (em um dos finais mais belos em toda a história do Cinema), ela vê que o que ele lhe fala não necessariamente é a verdade. Ela compreende que será apenas mais uma mulher no clã Corleone. Entende que Michael agora é o Padrinho. E para isso, Coppola apenas precisou de um beijo na mão e uma porta sendo fechada. É brilhante!

O filme trata da Máfia, mas acima de tudo é sobre a lealdade à família. E a personificação disto é o personagem Tom Hagen (Robert Duvall). No mundo diegético do filme, é a lealdade que importa, e não a honestidade, afinal de contas, estamos falando de um mundo de crimes.

Mas talvez, o filme não tivesse tanta força se o elenco não tivesse funcionado. Seja o time principal, Brando, Pacino, Caan e Duvall (todos indicados ao Oscar por suas atuações, sendo que somente Brando levou o prêmio), com interpretacões viscerais, arrebatadoras e acima de qualquer comentário. Seja os nomes coadjuvantes, como Richard Castellano (como Clemenza); a própria Diane Keaton; Al Lettieri (como Sollozzo); Abe Vigoda (como Tessio); John Cazale (como Fredo); e Richard Conte (como Barzini), todos convincentes em seus respectivos papéis; e, se alguns não podem ser considerados realmente bons atores, funcionam ora pela sua dura fisionomia, ora por sua corpulência. Enfim, todos escolhidos a dedo para exercer seu personagem de acordo com o que importava.

Mas o filme é mesmo de Marlon Brando, que domina toda e qualquer cena em que aparece. Sua composição de Don Vito Corleone talvez seja a mais famosa (e mais imitada) da história do Cinema. A força de sua interpretação "leva nas costas" inclusive aqueles companheiros não tão talentosos. As 'muletas' de interpretação que Brando utilizava já viraram lenda - como o gatinho da primeira cena e que não estava no roteiro, foi incluído pois o ator improvisou na hora e pegou o gato que 'passeava' pelo set de filmagens. Lendária também é a 'incorporação' que Brando fez em seu teste de elenco, utilizando chumaços de algodão para encher as bochechas (no filme, ele não usou algodão, e sim bolas de resina preparadas para esse fim). Enfim, Marlon Brando era uma lenda, assim como tudo o que fazia, ainda mais relacionado a este personagem. Suas ações, seus olhares, as pausas de suas falas, o tom da sua voz, tudo milimetricamente calculado para transformar Don Vito em uma lenda tão forte quanto ele mesmo. Conseguiu.

A fotografia do longa também é belíssima, com suas sombras e ambientes mal iluminados. As únicas cena em que vemos o Sol brilhar são a primeira, a cena do casamento, e as sequências em que Michael está na Sicília. São arroubos de calmaria e felicidade numa realidade dura e violenta.

E, coroando este estupendo filme, há ainda a belíssima trilha musical composta por Nino Rota e Carmine Coppola (pai de Francis Ford). Carmine Coppola foi o responsável pelas canções da cena do casamento. Nino Rota, o excepcional compositor italiano que já havia trabalhado muitas vezes com Federico Fellini, criou o tema que seria mundialmente conhecido, uma música melancólica e nostálgica que encaixa-se perfeitamente no filme, funcionando como mais uma peça fundamental deste intrincado quebra-cabeças.

Enfim, como já disse aqui algumas vezes, bons filmes são aqueles que não envelhecem, independente da idade que tenham. "O Poderoso Chefão" é, incontestavelmente, mais um desses. Talvez o maior de todos… Talvez…

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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"O Poderoso Chefão" entra na lista dos filmes que não me canso de assistir. Mas vou tentar analisar por partes o filme.

Roteiro. O roteiro é baseado no livro homônimo de Mario Puzo, que escreveu o roteiro junto com o diretor do filme, Francis Ford Coppola. A construção da história é perfeita. Começa apresentando os personagens na cena do casamento. Vemos como é o Don Corleone (Marlon Brando) e seu jeito de tratar e cuidar da família. O filho "adotivo" Tom Hagen (Robert Duvall) que é o seu braço direito. Conhecemos Sonny (James Caan), o filho mais agressivo. Michael (Al Pacino), o filho que não se envolve com os negócios da família. Vários outros personagens são apresentados, mas esses são os principais.

As sequências são muito bem construídas e temos várias que viraram ícones e faço questão de citar algumas:

- A cena em que Tom Hagen vai a Holliwoody falar com um produtor de cinema, e que culmina na famosa cena da cabeça do cavalo na cama do cara.

- A montagem em paralelo do batizado com a "limpa" que Michael faz contra os inimigos.

E por último, faço destaque para Marlon Brando. Ele domina quando está em cena, sem a menor dúvida. A construção e colaboração dele para o Vito Corleone é extraordinária. E a cena em que ele brinca com seu neto é mais umas das cenas clássicas que o filme gerou.

Recomendo.


por Oscar R. Júnior


2 comentários:

Rafael W. disse...

Não tenho palavras pra descrever o quanto admiro esta obra-prima atemporal e inesquecível.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Joice Xavier disse...

Sou apaixonada pela trilogia, sempre que posso estou assistindo, pois comprei o box resmaterizado.