terça-feira, 5 de julho de 2011

Ronda da Noite

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Ronda da Noite (Nightwatching, 2007)

Estreia oficial: 02 de novembro de 2007
Estreia no Brasil: lançado diretamente em DVD
IMDb



Ao assistir a este "Ronda da Noite", de Peter Greenaway, é inevitável não fazer uma ligação direta com o belíssimo "Moça com Brinco de Pérola" (2003), de Peter Webber. Ambos ficcionam sobre a história por detrás dos quadros de dois dos mais famosos pintores holandeses do século XVII. Enquanto o filme de Webber tratava sobre o quadro homônimo de Vermeer, o de Greenaway também tem como pano de fundo a realização da obra de mesmo nome de Rembrandt. A estética da fotografia dos dois filmes também se assemelha, já que ambos, cada um a seu modo, tentou remeter à aparência das obras de cada um dos pintores. Até Martin Freeman, que interpreta Rembrandt, lembra Colin Firth como Vermeer.

Mas, as semelhanças param por aí. Peter Greenaway imprime sua marca tão característica à sua obra, transformando-a numa espécie de teatro filmado, onde a maioria da ação acontece como se estivesse à frente do espectador, com cenários que remetem ao teatro ou à ópera. Inclusive o descortinar da cena inicial, faz com que o autor deixe claro que o que veremos dali em diate faz parte de uma encenação, e não de uma realidade. É a quebra da ilusão da suspensão da descrença (efeito onde o especatdor toma a ficção como parte de uma realidade e crê nela como um evento real).

Teatral também é a performance dos protagonistas que, vez por outra, interrompem a narrativa para dirigir-se diretamente ao espectador.

Cada plano idealizado por Greenaway é como se fosse uma pintura de Rembrandt, já que a belíssima fotografia de Reinier van Brummelen recria os efeitos de luzes e sombras das obras do pintor. Só que Greenaway não fala apenas do quadro de Rembrandt, mas usa-o como ponto de partida para retratar a vida privada do pintor e criticar o modo de vida da burguesia do século XVII, numa clara alusão à sociedade contemporânea.

O ritmo lento (também característico do diretor) e os difíceis diálogos fazem de "A Ronda da Noite" uma experiência menos palatável para aqueles adeptos do 'cinemão' hollywoodiano. Porém, para aqueles que derem uma chance à rebuscada narrativa de Greenaway, irão se deliciar com uma trama policial travestida de filme de arte.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


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