quinta-feira, 9 de junho de 2011

X-Men: Primeira Classe

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011)

Estreia oficial: 3 de junho de 2011
Estreia no Brasil: 3 de junho de 2011
IMDb


"X-Men: Primeira Classe" é uma prequel que faz jus à trilogia inicial dos X-Men (diferentemente do terrível "X-Men Origens: Wolverine", de 2009), já que jamais soa previsível - por mais que já saibamos como as coisas serão encaminhadas ao final. O interessante aqui, é ver como cada personagem chegou ao ponto onde os conhecemos anteriormente, o caminho que eles trilharam até chegarem a ser aqueles que já conhecemos. E, neste quesito este "Primeira Classe" é extremamente bem sucedido.

O roteiro nos apresenta a Erik Lehnsherr (ou Magneto) e Charles Xavier (Professor X) desde as suas respectivas infâncias, passando pelo momento em que os dois se conhecem, tornam-se amigos até o ponto onde vão dividir forças, recrutando mutantes para fins opostos. O roteiro é hábil em desenvolver seus personagens (e se preocupa com isso, o que não acontecia no pavoroso "Wolverine"), assim, passamos a entender as motivações do pequeno Erik, que, nos campos de concentração da Almenaha nazista chama a atenção do temível Sebastian Shaw (Kevin Bacon) em função dos seus poderes. Shaw tortura psicologicamente o menino em uma cena magistralmente dirigida por Matthew Vaughn (que já havia dirigido "Nem Tudo É o Que Parece", de 2004, "Stardust - O Mistério da Estrela", de 2007, e "Kick-Ass - Quebrando Tudo", de 2010), que a conduz de forma 'clássica' durante os diálogos, mostrando um medo e tensão do jovem Erik que podem até soar um pouco exagerados, mas que, no momento em que Vaughn faz uma quebra de eixo na sua montagem, descobrimos o porquê do menino sentir-se daquela maneira.

Dessa forma, tornam-se bastante compreensíveis as razões que transformaram Erik (o ótimo Michael Fassbender) em um homem amargurado e com tanta raiva reprimida. Passamos a compreender (e até a nos identificar) com Magneto. E o paralelo entre a vida sofrida de Erik e a boa vida de Charles Xavier é bem mostrada aqui. Este último, desde cedo já demonstra sua vocação para professor, sempre instruindo àqueles que o cercam. É fácil acreditar que esse jovem inteligentíssimo, corajoso, levemente arrogante e charmoso vá tornar-se o sábio Professor Xavier dos três primeiros filmes. E James McAvoy dá vida ao seu Xavier com uma vivacidade incrível. Chega a ser comovente ver a felicidade com que ele descobre que há mais mutantes ao redor do mundo do que inicialmente ele imaginara. Uma cena em particular me chamou a atenção para o talento tanto de McAvoy quanto de Fassbender: no momento em que Erik permite que Charles leia a sua mente para ajudá-lo a controlar melhor seus poderes, e dessa forma, compartilham as sofridas lembranças de Erik, as reações dos dois atores são comoventes.

Mas não só Xavier e Magneto são bem construídos aqui. Trazendo novamente a discussão sobre os preconceitos que a sociedade impõe às suas minorias (sejam raciais, geográficos, por orientação sexual, etc.), o roteiro utiliza-se de Mística (ou melhor, Raven) e de Hank McCoy para colocar em voga a questão. Jennifer Lawrence (do ótimo "Inverno da Alma") está sempre dividida entre mostrar-se à sociedade, ou seja, assumir sua forma azul mutante, ou incorporar-se à ela (em sua forma humana), e o dilema da garota é um dos mais tocantes do filme. Ela se identifica com o que Erik afirma, ao mesmo tempo em que tenta ser como Charles. Da mesma forma, Nicholas Hoult vive Hank McCoy como um rapaz brilhantemente precoce, cujo drama é bem descrito no longa pelo paralelo que faz como o sofrimento de Dr. Jekyll (de "O Médico e o Monstro", de R. L. Stevenson). McCoy sente-se tanto como o médico quanto como o monstro. Mas quem rouba todas as cenas é Kevin Bacon com seu vilão: Shaw passa a ser o pior vilão da franquia "X-Men".

Mas não é só no desenvolvimento de seus personagens que o longa é competente (por mais que o filme fique sempre melhor quando os mutantes estão descobrindo ou apenas demonstrando os seus poderes), Vaughn consegue manter o bom ritmo ao longo de todo o filme, intercalando cenas mais tocantes, com outras mais engraçadas (como toda a sequência em que Charles e Erik saem recrutando mutantes para a CIA), e com sequências de ação bem dirigidas.

A direção de arte também é irrepreensível, com sua recriação de época. O 'charme' da produção, por assim dizer, fica por conta do chamativo submarino do vilão, com suas cores fortes e um visual futurista dos anos 60 (bem ao estilo "James Bond" da época).

Porém, os efeitos visuais tropeçam de vez em quando, com montagens que não passam desapercebidas, como a queda de um avião em uma praia, e um primeiro plano de um general russo em Moscou. Mas, quando dizem respeito aos poderes dos personagens, os efeitos mostram-se sempre competentes.

Utilizando-se de acontecimentos históricos para ambientar a descoberta dos mutantes (e chega a ser engraçado pensar que toda um era de Guerra Fria aconteceu devido aos mutantes), "X-Men: Primeira Classe" volta a honrar a saga dos mutantes. Não só sendo um filme de qualidade, mas enriquecendo a construção de personagens que já eram bastante fortes.

Saí do cinema com vontade de rever os três primeiros filmes.

Ah! Além das piadinhas com relação ao cabelo do professor Xavier, há duas participações especiais de personagens conhecidos (com seus atores dos longas anteriores), que dão ainda mais graça aos momentos descontraídos do filme.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


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