sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quando Fala o Coração

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Quando Fala o Coração (Spellbound, 1945)

Estreia oficial: 28 de dezembro de 1945
IMDb



Alfred Hitchcok também teve sua parcela de filmes noir na década de 1940. Este "Quando Fala o Coração" é um dos exemplos (acho que outro que se encaixa no gênero é "Suspeita", de 1941).

A trama é de suspense, claro, mas é a psicanálise que domina a história. Vale lembrar que, nessa década houve o grande crescimento e aceitação desse ramo da psicologia, que baseia-se nos conceitos desenvolvidos por Sigmund Freud. O filme abusa um pouco desta linha de raciocínio, já que todos os fatos parecem ter uma explicação calcada neste pensamento, o que acaba enfraquecendo um pouco a trama. Mas jamais a desmerece. Inclusive, chega a ser responsável pela melhor cena do longa: uma sequência de sonhos onde os cenários foram todos criados por Salvador Dalí. A obra deste grande pintor, fotógrafo e cineasta é logo reconhecida. Seu trabalho é inconfundível. Há inclusive uma imensa cortina com olhos estampados que, quando cortada por um personagem, a tesoura faz um corte transversal em um dos olhos, remetendo imediatamente à famosa cena de "Um Cão Andaluz" (1929), curta de Dalí e Luis Buñuel, onde um olho é cortado por uma navalha.

Para interpretar os psicanalistas Dr. Edwards e Dra. Constance Petersen, Gregory Peck e Ingrid Bergman, respectivamente. Os dois estão muito bem. Hitchcok sempre foi conhecido pelo rigor que tinha com os atores, e isto é sempre notado em seus filmes, já que é difícil ver algum onde a direção de atores não é, no mínimo, regular.

Outra sequência que vale destacar é aquela em que aparece uma mão apontando uma arma para a personagem de Bergman. A mão, em primeiro plano, está numa escala bem maior que a Dra. Constance, que está ao fundo. Para conseguir tal efeito, Hitchcock construiu uma mão de madeira gigante, e colocou-a bem rente à câmera. O mais interessante desta cena (e aí vai um spoiler), é que a arma vira para a câmera (para o espectador) e atira. Há, aí, uma quebra, já que, de certa forma, Hitchcok atira na direção do público. Vale lembrar que a dita quarta parede não era usualmente "rompida" na época, e esta interação com o espectador faz com que este seja 'chamado' para a realidade, distanciando-se do filme. Hoje em dia isso não mais surpreende (nem os efeitos da mão parecem tão bons), mas na época, com certeza, foi um "estouro"! (com o perdão do trocadilho).

A trilha sonora composta por Miklós Rózsa é excelente, e sabe equilibrar bem os climas de tensão e romance que intercalam-se na tela.

Claro que visto hoje em dia, talvez o filme pareça um pouco datado - e acho que isso deve-se, principalmente, ao abuso da psicanálise na trama. O romance entre os personagens também me soa um pouco forçado, já que não dá pra entender como uma médica, extremamente racional, larga toda a sua vida para ir atrás de um susposto assassino. Claro que há toda a justificativa da médica que quer tratar o paciente, mas o envolvimento romântico entre eles jamais parece bem desenvolvido. Mas, no geral, acaba sendo um pequeno deslize frente ao resultado final da obra.

Enfim, mais um ótimo exemplar deste que foi o Mestre do Suspense.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


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