segunda-feira, 4 de abril de 2011

O Falcão Maltês

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Falcão Maltês, O (The Maltese Falcon, 1941)

Estreia oficial: 18 de outubro de 1941
IMDb



"Relíquia Macabra" foi o nome deste filme quando, na época, foi lançado nos cinemas brasileiros. É o primeiro longa dirigido pelo ótimo John Huston (que posteriormente fez "O Tesouro de Sierra Madre", 1948; "Uma Aventura na África", 1951; "Moby Dick", 1956, só pra citar alguns), e que, até então, era roteirista da Warner.

Diz a história que Huston brigou para adaptar o livro homônimo de Dashiell Hammett, e que só conseguiu levar os filme à tela porque a obra já havia sido adaptada duas vezes anteriormente. Não li o livro, mas diz a lenda que Huston quis fazer essa adaptação para ser mais fiel ao livro de Hammett.

"O Falcão Maltês" também tem outro mérito. É considerado por vários autores como o primeiro filme noir da história. O longa traz várias das característica utilizadas, posteriormente, pelos filmes do gênero, como a trama policial sombria, envolta no crime e corrupção; o anti-herói com seu cinismo e índole não muito confiável; a mulher fatal e perigosa; a utilização de sombras marcadas; e diálogos com duplo sentido.

O filme ainda iniciou Humphrey Bogart no tipo de papel que lhe consagraria: o do detetive durão e extremamente cínico. Mas não só o personagem de Bogart, Sam Spade, possui essas características. O filme é um 'desfile' de tipos dúbios e seus diálogos ambíguos. Desde a 'femme fatale' interpretada por Mary Astor, que inicia o filme como uma inocente moça, para depois revelar-se uma manipuladora de mão cheia. Ou o bandido Kasper Gutman (Sydney Greenstreet) que consegue ser bonachão e amedrontador ao mesmo tempo. Ou o tipo afeminado de Peter Lorre, Joel Cairo, com seus lenços perfumados, e que não hesitaria em atirar em nenhum dos personagens - é interessante notar que, na primeira cena em que Cairo aparece, ele é anunciado pela secretária de Spade, que lhe entrega o seu lenço. Spade o cheira e sente o perfume. Depois que Cairo adentra na sala, Spade o esbofeteia sem razão logo na primeira oportunidade. Ora, não é preciso ser muito astuto para juntar as peças e ver o preconceito e homofobia não tão velados assim.

A trama do longa é cheia de reviravoltas e suspense, como todo bom filme noir. E a relíquia macabra do antigo título nacional (o próprio falcão maltês), é uma estatueta incrustada de jóias que mal aparece no filme, mas é quem move a trama. Um típico exemplo do McGuffin definido por Alfred Hitchcock (algo que os personagens perseguem e que faz a trama avançar, mas que, na realidade, não altera em nada a história em si, portanto, sabermos ou não o que ele é, não importa realmente).

Não há muita ação no filme, ele é todo calcado nos ótimos diálogos com duplo sentido. Há ainda a famosa cena em que Sam Spade deixa sua amada, Brigid (Astor), ser presa pela polícia, e as grades do elevador fecham em frente ao seu rosto como barras de uma cela de prisão. Perfeita!

A ótima trilha sonora ajuda a dar ritmo à narrativa, também evidenciando o clima de suspense e mistério, mas sem exageros.

Enfim, é um filme obrigatório para todos aqueles que gostam da Sétima Arte.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


 

 

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