domingo, 20 de março de 2011

Jogo de Poder

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Jogo de Poder (Fair Game, 2010)

Estreia oficial: 15 de outubro de 2010
Estreia no Brasil: 18 de março de 2011
IMDb



Doug Liman ficou conhecido como diretor ao realizar "A Identidade Bourne" (2002), thriller emocionante e inteligente que consegue segurar o espectador do início ao fim. Depois, fez uma tentativa em um filme de ação mais 'light' e engraçado, "Sr. & Sra. Smith" (2005), que, apesar de não ser assim, nenhuma maravilha da sétima arte, diverte e tem uma química legal de seus protagonistas. Porém, tropeçou feio ao dirigir "Jumper" (2008), ficção científica sobre pessoas que conseguem 'pular' no tempo e no espaço. Agora, parece que o diretor viu realmente qual é a sua praia, e volta a dirigir esse longa mais sério.

E, se "A Identidade Bourne" já trazia um fundo político, agora Liman entrega-se totalmente a um longa baseado em eventos reais e que narra um dos fatos mais vergonhosos ocorridos durante o governo de George W. Bush. Fato esse que culminou com a segunda Guerra do Iraque. Uma guerra desnecessária e totalmente infundada. É a história de Valerie Plame (Naomi Watts), uma agente secreta da CIA que comandava uma investigação sobre a existência de armamentos nucleares no Iraque em 2002 (logo após os atentados às Torres Gêmeas). Quando precisa de um parecer sobre uma substância advinta do Níger e que, possivelmente, tinha como destino o Iraque, para a confecção de armas atômicas, Valerie sugere à CIA que mande ao país seu marido, o embaixador Joe Wilson (Sean Penn), para fazer um parecer, já que ele conhece mais sobre o assunto e possuía contatos no Níger. Quando Wilson vai a público, no New York Times, dizer que o país de Saddam não comprou tal substância e não possui armas de destruição em massa, a identidade de Valerie é revelada para a imprensa e funcionários do alto escalão da Casa Branca começam uma campanha de difamação do seu marido, e consequentemente, da própria Valerie. Assim, não só a carreira de ambos vai por água abaixo, mas também sua família acaba quase se desmoronando.

E logo um verdadeiro 'jogo de poder' (como diz o título nacional) tem início, e está longe de ser um 'fair game' (título original do filme), já que o governo tende a manipular diversas informações para macular a imagem do casal.

Doug Liman consegue dosar a tensão das cenas mais políticas, dentro de escritórios em Washington e quando Valerie está em campo, quando sua câmera, sempre 'nervosa', constantemente vira-se à procura de todos os personagens que da cena participam. E cenas mais tranquilas (visualmente) na casa dos protagonistas, mas que não são menos tensas, já que o desgaste emocional dos personagens acaba refletindo em sua vida doméstica.

O roteiro é muito bem construído, mas merece bastante atenção do espectador - principalmente daqueles que não têm familiaridade com os acontecimentos - já que os diálogos são repletos de siglas e menções a acontecimentos e lugares do Oriente Médio. E o que é melhor, os roteiristas Jez Butterworth e John-Henry Butterworth conseguem tratar desse tema tão delicado sem parecerem muito panfletários. Claro que o filme é obviamente anti-Bush e há, sim, alguns discursos emblemáticos, mas nada que incomode o ritmo e a evolução da história. Aliás, ambos os lados são retratados aqui, e embora haja uma clara acusação ao governo, também há críticas, por exemplo, ao próprio Joe Wilson. Porém, nessa vontade de não apontar para um só lado, o roteiro acaba amenizando alguns fatos importantes, como o papel da mídia nessa história toda, já que foi através da sua interferência que vidas foram profundamente afetadas e uma guerra foi deflagrada.

Sendo um filme tão político, anti-guerra (e, obviamente anti-Bush), é claro que Sean Penn seria um nome óbvio para uma produção como essa, já que o ator é, dentro da sua profissão, um dos mais ativistas. Mas, é claro também, que não só por isso, já que Penn, sempre talentoso, empresta a energia necessária para o personagem do diplomata Joe Wilson. Já Naomi Watts mostra que, quando quer, é extremamente competente, e consegue dar um ar mais humano e mais empático para a agente da CIA, facilitando a sua identificação com o espectador (além de ter o mesmo biotipo da Valerie real, que aparece nos momentos finais do longa).

Infelizmente, "Jogo de Poder" pode não ser um filme para o grande público, já que sua linguagem rápida e bastante politizada não irá agradar a todos. Mas, para aqueles que embarcarem nessa história, não apenas conhecerão um pouco mais do que aconteceu na época, mas também acompanharão um ótimo thriller político.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


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