sábado, 26 de fevereiro de 2011

Biutiful

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Biutiful (2010)

Estreia oficial: 20 de outubro de 2010
Estreia no Brasil: 21 de janeiro de 2011
IMDb



Biutiful é uma grafia errada para 'beautiful', que significa bonito. Porém nada, absolutamente nada, no novo filme de Alejandro González Iñárritu é bonito.

A começar pelos seus personagens, todos miseráveis ao extremo. Não só no sentido de pobreza, mas principalmente no quesito personalidade. As pessoas aqui retratadas são todas imorais, e não parecem ter sequer um peso na consciência pelos seus atos vis.

Talvez deprimente seja a expressão mais correta para definir o meu estado ao término do filme. O diretor não parece medir esforços para mostrar todo tipo de desgraça afim de que o espectador fique realmente arrasado ao assistir ao seu filme. E, obviamente, funciona, pois o peso dramático aqui empregado é bastante forte, porém também revela falhas no roteiro. Assim, a grande carga emocional (muitas vezes apelativa) parece querer encobrir nuances que o roteiro não carrega, ou mascarar subtramas desnecessárias.

Como é o caso de toda a história envolvendo a família de chineses. Realmente não era necessária para o entendimento do filme, e só está ali para salientar o quão desgraçada é a vida do protagonista, Uxbal (Javier Bardem). Embora, ainda assim, soe desnecessária, já que a sua vida, já repleta de desgostos, não precisava de mais essa para deixar claro ao espectador.

Mas é justamente por causa de Bardem que o filme não é um desastre. Ele consegue dar tridimensionalidade ao personagem. Além de estar sempre triste, com a aparência cansada e fisicamente abalado por causa da sua doença, Uxbal consegue demonstrar todo o amor e compaixão, que aparenta não ter na maioria das horas de seus dias, quando está na presença de seus dois filhos. E, apesar de mostrar-se bastante rigoroso, e empenhado na sua educação, é também capaz do mais singelo ato de carinho quando se trata da sua prole. E é realmente tocante vê-lo em cena.

No entanto, salvo a excepcional atuação de Javier Bardem, o que sobra é um roteiro que, como já falei, parece fazer questão que todos os espectadores sintam-se deprimidos, já que mesmo um alegre jantar em família - um sopro de felicidade em meio à tanta desgraça e tristeza - já surge fadado a não dar certo.

Mas, se Iñárritu não se sai tão bem no roteiro (que co-escreveu com Armando Bo e Nicolás Giacobone), acerta mais na direção. Além da ótima direção de atores; Iñárritu acerta ao utilizar reflexos que não correspondem com exatidão ao protagonista, ou sombras que movimentam-se em desacordo com o objeto, para demonstrar a confusão mental do personagem de Bardem. Ou então no caso da mediunidade de Uxbal, que é retratada através de aparições fora de foco da pessoas morta, e sempre nos cantos da imagens. Uma opção discreta e acertada, apesar de, pessoalmente, eu achar que a última visão do protagonista surja sem propósito.

Vale destacar também o ótimo tabalho do compositor Gustavo Santaolalla, que utiliza sons incômodos durante todo o longa, para reforçar a personalidade duvidosa do personagem principal, assim como sons de batidas de coração para pontuar a forte ligação dele com os filhos.

Longe de ser o melhor filme de Iñarritu ("Amores Brutos" e "21 Gramas" detém esse título), "Biutiful" vale a pena pela forte atuação de Javier Bardem, que transforma o protagonista de um filme irregular em uma personagem forte e que merece ser vista.


por Melissa Lipinski

 


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