terça-feira, 30 de novembro de 2010

Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger, 2010)

Estreia Oficial: 22 de setembro de 2010
Estreia no Brasil: 26 de novembro de 2010 
IMDb



46º filme da carreira de Woody Allen como diretor… é uma marca impressionante.

Bom, alguma coisa aqui tinha que ser impressionante, já que o filme não o é.

Contando uma história cheia de desilusões amorosas e com personagens que não dizem a que vieram, Woody Allen vem confirmando que não anda numa fase assim tão boa… Analisando sua carreira nos últimos 10 anos (e 10 filmes), temos uma obra-prima ("Match Point", 2005), um filme realmente bom ("Vicky Cristina Barcelona", de 2008), quatro medianos, com bons momentos ("Trapaceiros", 2000, "Melinda e Melinda", 2004, "Scoop", 2006 e "Tudo Pode Dar Certo", 2009), dois ruins ("Dirigindo no Escuro", 2002 e "Igual a Tudo na Vida", 2003) e dois que não deveriam ter sido feitos ("O Escorpião de Jade", 2001 e "O Sonho de Cassandra", 2007). Ou seja, em 10 anos, 2 filmes que podem figurar entre memoráveis. Tá, estou sendo muito crítica, tem diretor que não consegue isso em toda a sua carreira… Mas enfim, não estou falando em qualquer diretor… E sim de Woody Allen, (sim, sou fã confessa) o cineasta que entre 1977 e 1987 nos presenteou com, pelo menos, quatro obras-primas do cinema (estou me referindo a "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" - 1977, "Manhattan" - 1979, "A Rosa Púrpura do Cairo" - 1985 e "Hannah e Suas Irmãs - 1986), isso sem falar de outros filmes realmente muito bons desse período, mas que nem sempre são cotados nessas listas de melhores por aí afora, como "Zelig" (1983), "Broadway Danny Rose" (1984) e "A Era do Rádio (1987). Ou seja, em 10 anos (77-87), 7 filmes tidos como muito bons a excelentes. Portanto, dou-me ao direito (ou seria melhor, à ousadia) de falar que sua última fase não tem sido das melhores…

Acho que o diretor desistiu, com os anos, de um olhar mais de perto de seus personagens (exceção feita a "Match Point"), e o que se vê atualmente, são filmes ainda bastante cínicos e pessimistas (afinal, estamos falando de Woody Allen, e esta é sua 'marca registrada'), mas que não nos envolvem em seus personagens, pois não somos apresentados a eles de forma contundente, e sim de maneira rasa, superficial, e muitas vezes, como nesse "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos", também caricata.

Mas vou me ater ao filme. A história encontra com seus personagens já desiludidos, tanto com relação ao amor, quanto à vida. Alfie (Anthony Hopkins) largou da esposa, Helena (Gemma Jones), e vai se casar com a prostituta Charmaine (Lucy Punch). A filha de Alfie e Helena, Sally (Naomi Watts), não consegue engravidar e, desgostosa de seu casamento com Roy (Josh Brolin), acaba se apaixonando por seu chefe Greg (Antonio Banderas). Já Roy, um escritor frustrado e sem talento, começa a se interessar pela vizinha Dia (Freida Pinto), uma jovem musicista que só veste vermelho (what?).

Enfim, pela breve configuração da história já se nota o tom derrotista e frustrado da narrativa. E isso jamais seria um problema - afinal, a maioria dos "woody allen" são assim - se os personagens fossem construídos de maneira sólida e palpável. Mas o que vemos são figuras alegóricas e caricatas que vagam pela trama sem saber ao que vieram. São sombras dentro de uma vida sem sentido. Bom, se o diretor pretendia dizer que a vida é tão ridícula e fugaz que não importa o que você faça, jamais conseguirá satisfação naquilo que busca, tanto profissional quanto sentimentalmente, não precisava ter realizado esse filme. Afinal de contas, só ali nos primeiros parágrafos, citei uma meia dúzia de filmes bons que dizem exatamente isso.

Então, pra que realizar esse filme? (Olha eu de novo sendo dura com o Woddy Allen!)

Tá, o filme tem seus momentos engraçados. E os atores estão bem em suas atuações… E fazem o possível com o material que têm em mãos. Mas ainda assim não consigo ter uma resposta para a minha pergunta.

Além do mais, Allen faz um uso abusivo e sem propósito da narração em off (já que sem ela, entenderíamos o filme da mesma maneira). Acho que ele quis o narrador apenas para citar Shakespeare no início do filme. Mas, pensando bem, a frase do bardo inglês não poderia definir melhor essa obra: "A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre cômico que se empavona e agita por uma hora no palco, sem que seja, após, ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de som e fúria, que nada significa". Woody Allen, no entanto, não soube dosar a mão no seu cinismo e pessimismo com relação à vida (ou a tudo). Ele olha tudo de longe, esquecendo que o que queremos é poder compartilhar desse seu olhar, o que jamais acontece.

Um filme que não marca, não diz a que veio, nada significa. E, ainda por cima, contado por idiotas…


por Melissa Lipinski


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