terça-feira, 5 de outubro de 2010

Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme (Wall Street: Money Never Sleeps, 2010)

Estreia Oficial: 24 de setembro de 2010
Estreia no Basil: 24 de setembro de 2010 
IMDb



Que cenário poderia ser melhor para trazer de volta à tona o inescrupuloso Gordon Gekko do que a crise financeira que assolou o mundo inteiro em 2008? E eis que Oliver Stone (e o roteirista Allan Loeb) não fazem feio.

Agora, Gordon Gekko ressurge no mundo dos negócios depois de alguns anos de prisão. E não foi só o mundo de Wall Street que mudou muito nesse tempo. A montagem que Oliver Stone utiliza aqui também é bastante diferente da que usou no primeiro filme (de 1987). Se antes seguíamos as informações que eram transmitidas por telefones e papeizinhos, agora estamos diante da velocidade da internet, da qual nasce uma narrativa com um ritmo bem mais acelerado, com uma montagem frenética, cheia de múltiplas telas, mostrando várias ações concomitantes. Claro que Stone não está fazendo nada de novo, afinal o perfil do espectador também mudou (hoje, os filmes são bem mais rápidos), mas comparendo-se as duas produções isso fica bem evidente. E, ainda que seja um pouco longo demais e, tirando uma ou outra transição que achei 'deselegante' e que me tiraram da trama, o ritmo do filme não altera o principal: seus personagens.

E, se eram eles que davam coesão ao filme original, aqui acontece a mesma coisa. São os personagens a alma do filme. Se antes Gekko era o vilão da história e 'tinha o que merecia', agora ele surge meio que como um anti-herói, ainda sem muitos escrúpulos, mas, ao final, fazendo a coisa certa. E Michael Douglas parece estar muito a vontade voltando à pele do personagem que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator, e rouba cada cena em que aparece, com a mesma auto-confiança e carisma dos velhos tempos. E, se Shia LaBeouf, como protagonista, consegue levar o filme de maneira segura e humana, é Josh Brolin, como o vilão, quem entra em cena de igual para igual com Douglas. Há também a participação competente de Frank Langella, que parece dar um pouco de moralidade (pena que por pouco tempo) àquele mundo corrupto de Wall Street. Abro um parênteses para a curiosa e excelente participação de Charlie Sheen, o protagonista do filme de 1987, que parece não ter aprendido com seu antigo mestre... Ou será que aprendeu bem demais?

Porém, tenho que dizer que Carey Mulligan é o ponto fraco do filme. Não que ela trabalhe mal, pois é uma boa atriz, mas o problema é a sua personagem. Ou melhor, o roteiro se centrar tanto no envolvimento romântico da sua personagem com o de LaBeouf.

Parece que Oliver Stone também envelheceu e ficou mais sentimental. Afinal "Wall Street - Poder e Cobiça" (1987) era muito mais racional, e aí estava o ponto forte da produção. Já esse "Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme" parece querer dar uma importância bem maior aos sentimentos, perdendo a sua força, já que parece apelar para a emoção do espectador e não confiar no seu intelecto.

Detalhes que enfraquecem o longa, mas, de maneira nenhuma, tornam-o um filme ruim.


por Melissa Lipinski


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