sábado, 9 de outubro de 2010

Cabra-Cega

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Cabra-Cega (2004)

Estreia Oficial | no Brasil: 8 de abril de 2005

IMDb



"Cabra-Cega" é o terceiro longa-metragem de Toni Venturi, e conta a história de Tiago (Leonardo Medeiros) - ativista da esquerda revolucionária - que luta contra a ditadura militar instaurada no país na década de 60. Porém, depois de ferido em um confronto com o Exército, fica impossibilitado de sair do local onde está escondido – o apartamento de classe média de Pedro (Michel Bercovitch), onde recebe os cuidados e a ajuda de Rosa (Débora Duboc), companheira na luta contra a ditadura. E é em meio a este confinamento forçado, que começam a surgir desconfianças e neuras. Além de Tiago ter que enfrentar a realidade do fracasso da oposição frente ao governo.

O filme fala de uma época que a história “oficial” do país tenta esconder. Uma época que foi deixada para trás, e quase não é comentada com as gerações mais novas. Sob este aspecto, o longa tem grande validade, já que trata desta “ferida aberta” da história brasileira, que parece não ter previsão para “sarar”. Trata da ditadura militar assumindo o ponto de vista dos revolucionários. E é um assunto que volta e meia ressurge na mídia, como há pouco tempo atrás, com a divulgação de fotos que se acreditavam ser do jornalista Vladimir Herzog.

É com o público mais jovem que o longa tenta um diálogo maior, e, para tanto, utiliza-se de sua estética para conseguir esta aproximação: o uso da câmera na mão durante todo o filme é um bom exemplo disso. A trilha sonora também auxilia neste quesito, já que utiliza músicas da época remixadas e, algumas também, regravadas por Fernanda Porto (que fez a trilha sonora do filme). E é justamente a trilha sonora um dos pontos mais fortes do longa, pontuando de forma adequada várias passagens da trama.

A montagem bastante fragmentada deixa a história um pouco confusa em certos momentos. E o uso da câmera na mão durante toda a trama (que até pode ser justificado pelo baixo orçamento e pelo espaço físico limitado das filmagens) chega a cansar em alguns momentos.

Apesar do assunto válido e interessante, o filme deixa um pouco de lado o contexto histórico vivido pelo país durante a ditadura militar, para se ater em demasia no romance entre os personagens Tiago e Rosa, apostando em clichês e cenas sentimentalóides demais, fazendo com que o filme perca parte da sua força.

Quanto ao elenco, o único que se sobressai é mesmo Leonardo Medeiros, que faz um excelente trabalho. Em contrapartida, o baixo desempenho de Michel Bercovitch atrapalha o resultado final.


por Melissa Lipinski







** Texto originalmente escrito em 2005, durante o Curso de Graduação em Comunicação Social - Cinema e Vídeo, para a disciplina de Cinema Brasileiro.

Nenhum comentário: